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Por uma psicanálise amefricana – Manifesto

Psicanálise amefricana é um caminho, sem volta, que se abre por meio do estudo, da escrita, da supervisão de casos clínicos e também por meio de nossas próprias análises. Esse caminho visa à produção de outras formas de viver dentro e fora do campo psicanalítico. Durante muitos anos Freud temeu que a invenção que lhe tem como pai fosse lida sob o viés de uma coisa estritamente judaica. Ele se alegrou quando os primeiros não judeus entraram para o seu círculo de discussões. Durante décadas se falou na psicanálise alemã, depois a psicanálise francesa passou a nos seduzir.  Logo se deu um giro e se começou a falar da psicanálise norte-americana. Fala-se muita da psicanálise argentina e de seu enlace declarado com o “social”.  Todavia, ainda que um dos principais textos de Freud apresente um Moisés africano como fundante de certo tipo de sociedade onde se passa da pedra à palavra e Cheikh Anta Diop conceba a África como fundante da civilização, o não europeu ainda está longe de ser ouvido como sujeito na psicanálise, o não europeu ainda não se presenta como efeito da fala nesse campo que se pretende subversor de um discurso do amo.

Nessa senda, psicanálise amefricana vai se constituindo numa nova maneira de se conceber o discurso em seu movimento estrutural. Psicanálise amefricana, enlaçada na concepção de Améfrica Ladina proposta por Lélia Gonzalez, vai se constituindo no pagamento de uma dívida que temos com nossas/nossos ancestrais. E ainda,  psicanálise amefricana vai se constituindo num movimento de renovação na psicanálise onde Exu, como o fora e o dentro da série, é a base de um discurso fundante de novas formas de laço social.

Se a psicanálise se impulsionou sobre o conceito de inconsciente, sobre a estruturação do inconsciente como linguagem, se a psicanálise se constrói sobre os equívocos, os atos falhos, os sonhos, os mitos, como é possível então que a Améfrica tenha de dar razões/explicações sobre si própria? É o momento de levantarmos do chão os mitos enterrados e de enterrarmos os monstros da razão, com trabalho e trabalho para ampliarmos ou mesmo derrubarmos conceitos ditos ocidentocêntricos.

A psicanálise também como discurso é um método de investigação. Com ela trabalhamos sobre conceitos e não sobre dogmas. Portanto, a psicanálise amefricana é o maior desafio que temos como instituição. E nos dispomos seriamente a esse intento.

Eliane Marques

Marcela Villavella

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